sexta-feira, 6 de maio de 2011

Fundamentalismo existe lá e cá

     Era novembro de 2008. Natal tinha sido jogada nas mãos da, no mínimo, incompetente Micarla de Sousa. Eu estava no segundo semestre do Curso de Geografia e de Direito. Eu pagava a disciplina de História Econômica Geral e do Brasil. Eu estava em casa. Eu recebi um e-mail. Obama era o presidente eleito dos Estados Unidos da América.

     O e-mail era do professor da citada disciplina acima com o título "Obrigado América". Li o e-mail com apresentações de power point comentando a importância da vitória de Barack Obama, suas promessas de campanha, o que ele representava etc. Achei o máximo. Achamos.

     Repassei o e-mail cheio de esperança e entusiasmo. Acho que foi a foto de Obama que me deixou assim.

     Minutos após enviar, ou mesmo quando estava lendo eu parei um pouco e coloquei minha, ainda fraca, crítica geográfica e racional para funcionar e pensei: "Obama foi eleito 'presidente do mundo'?" 

     Pois é meus amigos. Eu já sabia que ele não era 'presidente do mundo' (entendam o sentido: iria lutar pela melhoria do mundo), mas não queria aceitar, acreditar. Queria pensar que Guantánamo seria realmente fechada. Queria acreditar que o imperialismo econômico-militar, menos racional que imperialismo do século XIX, iria diminuir e, por fim, acabar. No fundo mesmo eu nunca acreditei nisso, apenas fingia crer. Fingir às vezes é necessário.

     O mundo se sente traído ao ver os EUA lutarem contra o terrorismo com as mesmas armas que os terroristas. Mas o povo norte-americano cantando o hino na Time Square e em frente à Casa Branca se sente respeitado, feliz, com dever cumprido. Matamos Osama. Quem é Osama frente à uma ideologia que consome os corações pela ira?

     É difícil entender que intolerância gera intolerância?! Onde estavam as mães desse povo para dar umas palmadas e limitá-los quando criança?! Ah, já sei: estavam ensinando a seus filhos a serem os empreendedores mais capazes, a serem os primeiros da turma de física, química e matemática e os últimos na decência e respeito ao próximo. Os últimos nas relações pessoais. Mas não quero e não posso, pelo tema do texto, entrar no quesito "educação tecnicista"...

     Os erros na política externa norte-americana entraram em uma "bola de neve" sem precedentes na história. Se não for parada, culminaremos em uma 3ª terceira guerra mundial: Árabes de modo geral x EUA+Europa. A Turquia que se cuide, está bem no meio de ambos...
     

Quem disse que homem e mulher não podem ser amigos?!

     De uma amizade pode surgir grandes amores, mas também grandes fraternidades. É o caso abaixo, de uma amiga de fé, irmã camarada:

"Eu tenho um castelo. É um daqueles grandes castelos de pedra parecidos com os castelos bonitos dos campos da Irlanda. Meu castelo de pedras é grande, bonito e seguro. Além do castelo existe uma muralha que o separa do mundo externo. Entre a muralha e o castelo existe o jardim mais lindo que o mundo já viu. O jardim também é meu. Este castelo, este jardim, esta muralha são os meus tesouros. A minha fortaleza. São uma amizade. Ela foi construída sem que fosse percebebida, dia a dia, minuto a minuto nós depositamos pedrinhas que amontoadas foram formando paredes, e pouco a pouco construiram o castelo mais lindo que já existiu. Um dia eu depositei uma pedrinha, no outro você depositou outra pedrinha. A cada risada, a cada palavra dita, a cada olhar de cumplicidade, a cada felicidade, a cada conquista, a cada tristeza, a cada lágrima, a cada consolo e a cada preocupação foram depositadas pedras.

Um dia depositamos rochas grandes de afinidade que formaram o alicerce do nosso castelo, em outro pedrinhas para nossas muitas risadas. Foi uma construção realmente fácil, parece mais que temos alma de empreiteiros, nós nem percebemos e em um belo dia lá estava aquela obra espetacular construída por rochas, cascalhos e pedrinhas. Nenhum engenheiro ou arquiteto fariam um castelo tão lindo como dois advogados.

Então decidimos decorar o castelo, e pouco a pouco fomos colocando nossos relicários, precisávamos de relicários em comum pois o castelo não era meu, o castelo não era seu, era nosso. Então colocamos nosso amor pelos amigos em comum. Na verdade colocamos nosso amor por todo e qualquer amigo, todos seriam bem vindos. Colocamos nossa fé na mudança. Colocamos nossa fé em um partido. Nosso desejo de justiça. Nossa revolta contra injustiças. Nosso sonho de um mundo melhor. Colocamos nossos sonhos. Nossa música para embalar as noites. Nossa alegria ao ouvir nosso samba, nosso chorinho, nossa bossa e porque não nossos Beatles? Colocamos tudo o que realmente nos importava. E no fim das contas uma decoração que podia ter ficado caótica ficou realmente linda, ficou chic sabe? E você sabe que adoro coisas chics!

Outro dia qualquer nosso jardim foi plantado, dia qualquer não. O jardim começou a ser plantado por você em uma segunda-feira, mas eu só soube quando acordei no outro dia. Eu acordei e ví um jardim lindo. Eu te liguei para brigar por ter começado sem mim, mas te liguei mais para agradecer por ter começado. Nós fomos plantando esse jardim todos os dias e em uma sexta-feira foi decidido que cabia a mim regá-lo. Eu o reguei com minhas lágrimas e foram tantas e tantas, tão sofridas e dolorosas que como resultado o jardim ficou lindo e muito florido. Lágrimas de amor fazem as flores ficarem mais bonitas. Nenhum jardineiro faria um jardim tão bonito como dois advogados.

Sem que fosse percebido nós construímos a muralha. Não me lembro de ter depositado nenhuma pedra nela, aposto que você também não lembra de ter colocado aquela porta de aço. Não lembro de ter plantado os canteiros de flores ao pé da muralha, nem muito menos como aquele pé de maracujá foi ficar tão bonito crescendo muralha acima. Eu realmente não me lembro.

Só depois eu percebi que bem melhor que a construção do muro ou ter plantado o jardim foi a construção da muralha. A muralha é toda a confiança e fé que temos um no outro. É toda a certeza que podemos contar e confiar plenamente um no outro. A muralha é simplesmente a certeza. Sem parecer piegas e sem parecer clichê a muralha é saber que tenho um amigo que me ama ao ponto de ficar feliz pela minha felicidade e triste pela minha tristeza. Que está comigo nos lugares legais e se diverte comigo em qualquer lugar, sofisticado ou no meio de uma rua, mas que segura minha mão e cuida de mim quando estou realmente triste. Que me adimira sem que eu mereça e que acredita em mim quando nem eu mesma acredito. A muralha é a certeza que posso ficar a vontade e ser eu mesma, que não preciso ser ninguém além de mim. Com meus muitos defeitos e minhas qualidades, mesmo assim serei amada. Meu bem, isso é tudo para uma pessoa sabe?

A muralha não é a escolha de uma amizade, é o céu, Gaia e o Universo querendo que essa amizade exista. Não é um amizade, é uma irmandade, é uma família. É um porto seguro para onde se corre quando se tem medo, para onde se corre quando procuramos abrigo, quando queremos um conselho, quando queremos ser ouvidos ou quando queremos só passar o tempo conversando bobagens. Na verdade não existem bobagens entre amigos, tudo é tesouro, tudo é relicário, tudo é quimera.

Você é o meu presente, meu amigo, meu irmão, minha quimera, sonho ou realidade, besta ou fera. Só quimera.

06/05/11"